O Poderoso Chefão das Patentes
Por Breno Pacheco
Breno Pacheco, colunista do blog A Lanterna Mágica Filmes |
O Cinema do Brasil nasceu em 1896 por iniciativa de um itinerante belga, que, com a imigração desta época, trouxe os ideais cinematográficos ao Brasil. Apesar de nunca ter se estruturado plenamente como indústria, nossas produções cinematográficas tiveram momentos de grande repercussão internacional, como na época do Cinema Novo, movimento influenciado pelo neorrealismo italiano e pela “Nouvelle Vague” francesa.
A primeira produtora e distribuidora de filmes brasileiros foi a Embrafilme, uma estatal criada em 1969 que estimulou o crescimento do mercado interno. Ao ser extinta em 1990 pelo Programa Nacional de Desestatização(PND) do governo Collor, suas funções de fiscalização e regulamentação cinematográfica foram abocanhadas pela Ancine e seus direitos de distribuição passaram para a iniciativa privada. O principal nome dessa iniciativa é a Rede Globo de Televisão, a segunda maior emissora do mundo.
O cinema antigo, da época da imigração e da Embrafilme, resumia em retratar a realidade brasileira. Alguns títulos como "Ancoradouro de Pescadores na Baía de Guanabara" e "Chegada do trem em Petrópolis" retratam aspectos da sociedade brasileira como a vida dos pescadores do Rio de Janeiro na época do final do império e a construção da primeira linha férrea do Brasil, a Rio-Petrópolis, respectivamente.
É visivel entretanto que essa temática não mudou depois de tanto tempo de cinema e depois de tantas transformações. O tema principal dos filmes nacionais atuais continua sendo a realidade brasileira, o que é bom e ruim, simultâneamente. É bom, pois consiste numa forma interessante de apresentar um Brasil que milhões de brasileiros ainda não conheçam ou tenham uma opinião divergente do que realmente aconteça. E é ruim porque informar NÃO é o principal objetivo de um filme.
Os estúdios de cinema brasileiros são poucos e a maioria são tão ofuscados pelo “Poderoso Chefão” do cinema brasileiro que seus trabalhos não atingem grande repercussão e alguns são inclusive desconhecidos do público. Isso porque a Globo Filmes, a “Toda Poderosa” detem a 90% das patentes de filmes registrados até hoje.
Veja só como é o Brasil: nossos escritórios de registro de patentes são muito pouco conhecidos e frequentados. O brasileiro não tem o costume de inventar e patentear suas criações para que elas sejam reconhecidas. E nossa produção cinematográfica foi praticamente toda monopolizada por apenas uma empresa. Ou seja, estamos destinados a assistir filmes produzidos por quem só sabe produzir novelas! Repare que existem poucas produtoras de filmes no Brasil além da Globo, como a Zeta Filmes e a Imagem Filmes. Produtores individuais só conseguem exibição de seus filmes em pequenos festivais de cinema, justamente porque não conseguem divulgação de seus trabalhos pois quem controla a mídia é a Rede Globo. Sem falar dos custos de produção que, para amadores, chega a ser quase impossível produzir um bom filme devido a alguns fatores:
Nos Estados Unidos principalmente, a criação e registro de patentes é estimulada até mesmo entre os cidadãos comuns e a concepção e realização de projetos é livre. Por isso que existem tantos estúdios de cinema em terras estadunidenses como a 20º Century Fox Films, a Columbia Pictures, a Dreamworks, a Pixar, a Warner Bros., a Paramont, a MGM e muitas outras. As condições financeiras lá são ótimas e os equipamentos são de valor baixo, até mesmo os profissionais. Lá se tem todas as condições para se criar um bom filme.
A mídia conservadora e muitos telespectadores que assistiram ao filme “Tropa de Elite” e que gostaram, dizem que o cinema brasileiro melhorou muito nos últimos anos. Sim, se comparados com os filmes brasileiros de 20 anos atrás, os filmes de hoje são alguma coisa. Mas ainda deixam muito a desejar quando jogamos o Brasil no contexto internacional. Afinal, o Brasil não quer tanto aparecer no contexto mundial né???
Um grande problema é que FILMES NACIONAIS SÓ SABEM FALAR DE DROGAS E DINHEIRO! Esse é o tal tema principal dos filmes nacionais que eu citei lá em cima. Como filme nacional só se trata de exibir a realidade brasileira, os filmes que mais tem repercussão são aqueles que usam drogas e dinheiro como causa, problema, solução e até enredo de muitos filmes, como em Cidade de Deus e Meu nome não é Johnny, por exemplo. Os filmes brasileiros são, na verdade, novelas de 2 horas! Óbvio né, quem faz filme nesse país são os mesmos atores, diretores e produtores de teledramaturgia! Lógico que os filmes têm que sair com cara de novela. Isso é absurdamente evidente. Se você sintoniza na Globo e está passando um filme nacional, a primeira reação que você terá é tentar adivinhar se trata-se de um filme ou novela. Por favor Rede Globo, deixa a novela da vida real pros documentários e programas jornalísticos e vamos investir em ficção, por favor! FILMES NACIONAIS SEMPRE QUEREM DIZER O QUE É “CERTO” E O QUE É “ERRADO” e lutar contra preconceitos (geralmente raciais). A impressão que se tem é que todo rico trata o pobre mal. Qualquer um que assista a um filme como "American Pie" sabe o que é errado ou certo. Não é preciso repetir o óbvio. E tem mais um ponto discutível no cinema nacional: OS FILMES NACIONAIS NÃO CONSEGUEM APENAS DIVERTIR OS TELESPECTADORES. Acredito que ninguém vá ao cinema querendo assistir a um filme sobre algo ao qual você possa assistir no jornal televisionado. Os diretores brasileiros não conseguem fazer um filme pensando apenas no entretenimento, como acontece muito lá fora. Não se tem um bom filme de terror brasileiro, nem algum com efeitos especiais, isso porque não é interessante pra Globo fazer um filme assim, pois é mais rentável fazer um filme sobre a realidade brasileira, ou seja, é melhor jogar a reputação do Brasil na privada, do que fazer algo simplesmente que faça as pessoas rirem, se divertirem e se surpreenderem. O aspecto negativo dos filmes já está tão batido que ao ver um filme nacional, quase ninguém mais se surpreende. A Rede Globo é cheia de conexões com o Governo Federal, por isso esse é o tema central dos filmes brasileiros. Mostrar pro mundo lá fora que o que mais importa aqui são as drogas, a violência e o dinheiro. ¬¬’
É possível que, mesmo com um assunto que vemos todo dia em nossos noticiários, os filmes nacionais consigam ser razoáveis, como o caso de “Tropa de Elite”, mas onde está o bom enredo? Se você vai ao cinema assistir a “Os Vingadores”, por exemplo, você não está preocupado com drogas e violência na sua cidade. Você vai ao cinema pra se divertir, pra assistir a algo que te faça voar pela imaginação. Drogas, dinheiro e violência, a gente vê todo dia no Jornal Nacional. Não é isso mais que queremos ver.
O que falta no Brasil são diretores que transformem coisas pequenas em coisas grandes. Como acontece muito lá fora. Diretores estrangeiros transformam pequenas ideias em filmes magníficos. “Marley e Eu”, por exemplo, apesar de ter atores de primeira não é uma "mega produção americana", porém fez sucesso. O brasileiro tem que entender que mesmo sem muita renda é possível fazer filmes bons.
Concluindo: o cinema brasileiro parece estar empenhado em fazer um grande filme seguindo a fórmula de drama, violência, realismo (na opinião deles, por isso tantos filmes "baseados numa história real") e com uma lição de moral convincente no final, e assim despontar em grande estilo no cenário internacional. Acho que deveriam pensar em amadurecer melhor o cinema nacional, antes de sonhar com sucessos arrebatadores. Ainda mais se usarem sempre a mesma fórmula.
Até o Brasil parar de tratar seus filmes como novelas de duas horas e meia nós só faremos sucesso falando mal do nosso país e da nossa realidade. É isso que dá, ter uma só empresa no comando de quase tudo quando se trata de cinema brasileiro.
Obs.: O Wikipédia tem uma lista dos principais estúdios de cinema do mundo. Dá só uma olhada: Principais estúdios de Cinema
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